Passagens aéreas sobem 36,4% em 7 meses e Ponte Aérea pode custar quase R$ 3 mil. Confira alguns preços

O preço médio das passagens aéreas no Brasil subiu 36,4% de janeiro a julho deste ano, para R$ 606,42, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em comparação a igual período de 2021. O salto é puxado principalmente pela alta do dólar — as empresas do setor têm metade dos custos atrelados à moeda americana — e do combustível. Mas nas rotas mais disputadas, como a ponte aérea Rio-São Paulo, o preço de um único trecho pode se aproximar dos R$ 3 mil para viagens nos próximos dias.

O brasileiro voltou a viajar, e a oferta de voos está quase de volta ao nível pré-pandemia no país, mas não há expectativa de queda no preço dos bilhetes no curto prazo, afirmam especialistas. Para quem viaja a passeio, a solução é se planejar, pesquisar e comprar com antecedência.

Para as viagens de negócios, o caminho é mais estreito. Uma passagem de Santos Dumont para Congonhas no início da próxima segunda-feira, por exemplo, custa a partir de R$ 2.755,83, com a Gol. Os preços das concorrentes não são muito diferentes. A mesma pesquisa indicou valor de R$ 2.804,83 para a Azul e de R$ 2.989,83.

— O passageiro tem poucas alternativas neste cenário. É preciso buscar promoções, que foram reduzidas. A saída é comparar preços e comprar com muita antecedência — recomenda Gustavo Kloh, professor da FGV Direito Rio.

Dólar e combustível
Para voar na ponte aérea, mas três semanas depois, em 24 de outubro, as tarifas caem para a partir de R$ 748,83, com a Azul. Podem custar ainda menos. Mas em viagens de negócios, no entanto, é comum precisar fazer compras de última hora. E nestes casos os preços voam mais alto.

O salto no preço dos bilhetes é sentido também em rotas fora das linhas mais atreladas ao movimento corporativo. Rafaella Leal, de 25 anos, que mora em Belém desde 2020, conta que costumava pagar R$ 900 em uma passagem de ida e volta entre a capital paraense e o Rio. Agora, paga o dobro para voar só um dos trechos.

Para visitar a família no Rio, ela tem de se planejar e parcelar o pagamento do bilhete. Rafaella passou também a usar alertas de aplicativos e sites especializados para mapear os melhores preços.

— Afeta meus gastos, parece que estou sempre pagando passagem. Os preços subiram muito. Gostaria de viajar mais, ver meus pais a cada três, quatro meses. Mas, em um ano, acho que irei ao Rio só uma ou duas vezes, porque não há apenas o custo da passagem — diz ela, que planeja vir para as festas de fim de ano, quando prevê gastar R$ 1.000 a mais do que desembolsou em 2021.

Jeanine Pires, ex-presidente da Embratur e fundadora da Oner Travel, destaca que não há mais como identificar aquela janela ideal para compra de passagem.

— Quando o foco é preço é preciso redobrar cuidados: saber as regras de remarcação, cancelamento e multas do bilhete, taxa de bagagem despachada, para ver se vale a pena. As empresas estão começando a anunciar os voos de reforço para fim de ano e férias e isso pode trazer preços mais atrativos, vale ficar de olho — diz.

São estratégias para um momento em que fatores internacionais e no Brasil colaboram para manter o preço das passagens lá em cima.

— Voar de avião é um consumo dolarizado. Como nossa moeda está muito fraca, sentimos o efeito forte nas tarifas. O combustível representa até 40% do preço do bilhete, custo que saltou. Mesmo com o início da redução no preço do querosene de aviação (QAV), o efeito vai demorar para chegar no bilhete — diz Guilherme Justino Dantas, sócio do escritório Gasparini, Nogueira de Lima e Barbosa Advogados.

De janeiro até o fim de setembro, o combustível de aviação acumula aumento de 47,64%, segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), já considerando a redução de 0,84% anunciada pela Petrobras e que começa a vigorar hoje. Entre julho de 2019 e julho deste ano, o QAV subiu quase 169%, enquanto a gasolina teve reajuste de 50,9%, diz entidade.

60 a 90 dias antes
Para Eduardo Sanovicz, à frente da Abear, as reduções no preço do combustível de aviação são positivas, mas ainda insuficientes para aliviar os custos do setor:

— Esta queda (de agora) é insuficiente, assim como as anteriores. O querosene segue precificado como se viesse do exterior, triplicou de valor em três anos e isto impacta custos e preços de bilhetes de forma injusta. Defendemos a revisão desta política de precificação, a fim de podermos retomar o crescimento da aviação brasileira.

A entidade recomenda que os passageiros se planejem para comprar passagens com antecedência de 60 a 90 dias, período em que os preços competitivos seguem disponíveis.

Como o custo da operação está muito alto, o avião voa o mais cheio possível. Em agosto, o movimento de passageiros em voos domésticos chegou a 92,4% em relação a igual período antes da pandemia. A taxa de ocupação superou 81%.

Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes, lembra que as companhias sofreram perdas financeiras relevantes na pandemia.

— Houve perdas trazidas pela pandemia. Os custos subiram e há muita incerteza no cenário geopolítico global, não se sabe mais se a a retomada dos níveis pré-pandemia na aviação se dará na virada de 2023 para 2024.

Isso se traduz em incerteza, continua ele, travando aposta em expansão de malha pelas aéreas oferta pelo temor novos problemas de receita.
Os desafios na macroeconomia e a incerteza gerada pela crise política no Brasil também nublam o horizonte.

— É preciso melhorar a economia para a aviação crescer, gerar emprego, renda e demanda — destaca Jorge Leal, Medeiros, do Departamento de Engenharia de Transportes da Poli/USP, frisando que a classe C precisa voltar a voar.

Procurada, a Latam diz que a recente redução do QAV tem estabilizado o preço das passagens. Mas afirma ser “prematuro fazer qualquer previsão de queda de preços no momento”. A Azul também salientou o efeito do dólar nas passagens. E explicou que os preços variam de acordo com fatores como trecho voado, sazonalidade, compra antecipada e disponibilidade de assentos. A Gol frisa não esperar redução de preços no curto prazo, pelo efeito do combustível e do câmbio nos custos.

*Colaborou Caroline Nunes, estagiária, sob orientação de Luciana Rodrigues

Publicado por O Globo